quinta-feira, 7 de novembro de 2013
NO site do ZICO um texto de saudade do Japão escrito por UDU COIMBRA - Chuchu no Missoshiru.
Casa de Kashima
Um parente do protagonista
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Foram muitos os anos que vivi no Japão com lembranças inesgotáveis que sempre me causam um aperto arrepiante e aquela divina saudade que nem sei dimensionar, mas, sim, naufragar no maremoto do sentimento, como um tsunami de paixão que transborda o sangue no meu coração oceânico!
Que país elegante, de natureza pungente, de gente decente e ardor comovente!
Kashima foi a minha primeira morada, o meu primeiro trabalho e a mais importante passagem pela terra fértil do sol nascente, do mar borbulhante, da lua crescente, dos ventos uivantes e do frio envolvente!
Numa rua de asfalto liso com pedras decorativas nos muros das residências feitas com a madeira mais valiosa de nossa Amazônia, em grande estilo arquitetônico, residi numa casa confortável, com espaços coloridos por uma gama imensa de bonsais, e uma enorme variedade de plantas espalhadas no tapete verde da grama macia do quintal. Minhas andanças pela vizinhança se tornaram uma rotina com o intuito de acionar o meu sentido mais amplo da visão, relaxando a cada painel vislumbrado, através das belezas inconfundíveis que cada jardim oferecia.
Uma realidade nipônica, de natureza ímpar, atingindo o alvo de mira que meus olhos perseguiam!
De tantas imagens gravadas no mais profundo âmago mental, uma delas ficou imortalizada, pelo conteúdo mágico do acontecimento. Foi um verdadeiro achado, recheado de mistério, que jamais poderia imaginar descobrir, neste longínquo país asiático! Num desses quintais da vizinhança, no muro que dividia uma casa da outra, constatei uma trepadeira em nível acelerado, tomando conta de todo espaço possível que lhe permitia expandir. Para a minha total admiração, uma infinidade de frutos verdes e espinhosos destacavam-se, presos aos finos “galhos” desta hortaliça extremamente linda e bem cuidada. E, para a minha surpresa maior, cobertos dos formosos chuchus de dimensões e formato variados com extrema exuberância clássica, dando em mim, claro, a vontade de matar a fome e, em primeira estância, o desejo de comer um bem feito prato de chuchu com camarão.
Uma questão. Como conseguir a tão sonhada colheita se nem ao menos conhecia seus proprietários? Evidente que apelei para o nosso querido “super-herói” japonês, o competente intérprete “Suzukinho das Candongas”, como ele gosta de ser chamado até hoje. A escolha foi correta e o resultado de acordo com o esperado. Ou seja, a dona da casa, Sra. Fukuhara, de coração aberto aos “invasores” estrangeiros, deu a este brasileiro a oportunidade de escolher, e colher, a quantidade que bem entendesse.
Caramba! Que ruidosa festa a minha, ao encher o cesto daqueles belos vegetais que pensava, até aquele momento, jamais existirem no Japão! Mas o melhor ainda estava por acontecer. Senão vejamos:
Guiado pelo espírito do melhor mestre cuca existente no país, enfiei a cara na criatividade culinária e “inventei” um tremendo missoshiro, adicionando pequenos cubos de chuchu, tofu e pedacinhos de camarão cinza e amarronzado. Todos engolidos e dissolvidos pela água fervente, dando um aroma penetrante de causar inveja ao famoso caldo verde da Dona Mathilde.
O perfume arrasador, a temperatura quase abaixo de zero e a os nutrientes em sauna abençoada, me deram a certeza de que seria um verdadeiro manjar dos deuses, ocasionando momentos de grande satisfação alimentar. Para coroar a minha intenção principal, levei parte da sopa para a nossa querida vizinha Fukuhara. Seus olhos brilharam ao ver a qualidade do prato que seria servido, o que era uma verdade.
Para a minha alegria e orgulho, o comentário dela após experimentar aquela novidade foi de grande valia para mim, juntando-se ao comentário do “guloso” Kunihiro que traçou, nada mais, nada menos, que 3 pratos fundos. Evidente que me tornei parte integrante da família, unindo, ainda mais, os laços Brasil-Japão, tudo por causa dos belíssimos chuchus nipônicos.
O gosto pela vida e pelos múltiplos sabores que ela nos oferece, pode ser espalhado, e traduzido, por este mundo de deus, através das inúmeras oportunidades de se criarem raízes humanas de afeto, atenção e carinho.
Até a próxima curiosidade.
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