Único a encher mais da metade de seu estádio, clube do ABC destoa do fiasco de público que é o Estadual
Passadas dez rodadas com uma média de 5.811 torcedores pagantes por partida, já é possível dizer que o Campeonato Paulista é um fracasso de público. Um clube, no entanto, foge à regra e faz de suas arquibancadas uma das grandes atrações do estadual. Com apenas dez anos de história, o São Bernardo encontrou nas parcerias com empresas da região a fórmula para encher seus jogos.
Três décadas atrás, o antigo estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, ficou conhecido como palco de assembleias dos movimentos sindicais que reivindicavam melhores salários e condições de trabalho. O local ficou muito associado ao ex-presidente e então operário Luís Inácio Lula daSilva. Foi daí que veio seu nome atual, Primeiro de Maio, uma homenagem aos trabalhadores.
Hoje são os próprios trabalhadores que colaboram para transformar o estádio em caldeirão. Disputando a divisão principal do Paulistão pela terceira vez em sua história, o São Bernardo, fundado em 2004, tem média de9.477 torcedores pagantes em seus quatro jogos como mandante até aqui. O número é superior ao registrado por São Paulo (9.477) e Santos (8.899), por exemplo. Apenas Corinthians (13.600) e Palmeiras (12.923) encheram mais as arquibancadas.
“Temos um projeto chamado Empresa Parceira, que vende uma cota de ingressos para uma multinacional de São Bernardo para cada jogo e essa empresa distribui entre seus funcionários. O torcedor final não paga, são as empresas. E a gente está desta forma fidelizando a galera”, explicou Tiago Ferreira, diretor administrativo do São Bernardo.
“A gente consegue vender ingressos a um preço menor, porque é permitido pela Federação Paulista fazer pacotes e promoções e vender abaixo do preço mínimo (R$ 30). E a gente vende para empresas, que acabam distribuindo para seus funcionários. Isso permite também que o São Bernardo tenha um grande público no estádio”, disse Edgard Montemor, diretor executivo de futebol do clube.
Se contabilizada somente a taxa de ocupação do estádio, o novato time do ABC é o líder disparado em público. Como o Primeiro de Maio tem capacidade de 13.500 pessoas, sua média neste quesito é de 71%, contra 21% da média de todo o Paulistão.
O São Bernardo é a única equipe que enche mais da metade de seu estádio. O Corinthians, que manda seus jogos no Pacaembu, onde cabem 40 mil, ocupa 42% dos lugares disponíveis. O São Paulo e o Morumbi, que podem receber 67 mil fãs, têm taxa de somente 13%.
O gosto da população da cidade por futebol e a falta de uma equipe competitiva também ajuda, segundo Ferreira. E a inspiração veio nas vizinhas Santo André e São Caetano.
“A cidade de São Bernardo gosta bastante e respira futebol. Para você ter uma ideia, o futebol amador aqui tem três divisões. Você tem jogos de futebol amador com duas mil pessoas nos campos da várzea. Nas finais, você consegue às vezes até ter o dobro disso. Em cima disso, temos um clube estruturado, que em dez anos conquistou quatro acessos e dois títulos (Série A2 do Paulistão 2012 e Copa Paulista 2013). Essa vontade da cidade de ter um time de futebol competitivo foi suprida”, afirmou Montemor.
“Santo André e São Caetano tiveram times competitivos nos últimos tempos, conquistaram títulos e disputaram a Copa Libertadores. São Bernardo, ao contrário, nunca teve. Quando chegou, a cidade abraçou”, concordou Ferreira.
Jogando em casa, o São Bernardo soma duas vitórias, uma derrota e um empate – este último contra o São Paulo, acompanhado pela reportagem do iG Esporte, foi visto por 12.840 torcedores, muitos de roupa social que claramente haviam ido ao estádio direto do trabalho.
“Esse público só não é mais alto porque o estádio não é maior”, diz Ferreira.
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