terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Planejamento dá resultado, e Santa Catarina vira protagonista no Brasileirão .

Estado terá quatro representantes na próxima edição da Série A, resultado da profissionalização dos clubes e de equipes montadas de acordo com sua realidade econômica

O ano de 2014 chegou ao fim para o futebol brasileiro e consolidou Santa Catarina em uma posição invejável no Brasileirão. Com os acessos de Joinville e Avaí, o Estado terá quatro representantes na Série A de 2015 - Figueirense e Chapecoense completam a lista -, soberania antes alcançada apenas por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Tal feito é resultado de um trabalho que começou há seis anos e que fez com que os clubes mudassem de mentalidade.
A reformulação do futebol catarinense segue o planejamento do próprio Estado, que se diferencia por ter uma economia baseada em pequenas e médias empresas e pólos regionais. Ao adotar essa estratégia, Santa Catarina descentralizou o poder e polarizou suas políticas públicas.





Jose Luis Silva/AGIF
Equipe do Joinville comemora o título da Série B do Campeonato Brasileiro

O exemplo dessa distribuição está no PIB (Produto Interno Bruto) elevado dos municípios de Florianópolis, Joinville, Criciúma e Chapecó. Além de o Estado ter um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) considerado alto (0,840), o PIB por habitante cresce 6% ao ano (cerca de US$ 10 mil) e supera por quase o dobro a média brasileira.
"Temos que nos planejar, e nos planejamos. Éramos o 15º colocado no ranking da CBF, e hoje vamos para 5º. Tudo foi fruto de uma organização, profissionalização dos clubes e busca por patrocinadores. Santa Catarina é diferenciada, pois não é como a maioria dos Estados onde a atenção está na capital. Aqui a economia é diversificada. É o sexto maior Estado com a economia do País. Como o (João) Havelange falou: 'O futebol é o caminho forte para o desenvolvimento econômico do país'. E ele acertou", disse ao iG Delfim Pádua Peixoto Filho, presidente da FCF (Federação Catarinense de Futebol).
A luta incessante para a mudança dos clubes passou também por uma reestruturação da própria federação. O campeonato estadual se fortaleceu, e foram criadas novas competições para as categorias de base.





Eduardo Valente/Gazeta Press
Marquinhos, do Avaí, comemora seu gol contra o Vasco: acesso na rodada final

"Eu dei um conselho aos clubes que foi um seguinte: chega de trazer jogador em fim de carreira, que queira terminar a carreira nas praias de Santa Catarina. Vamos investir nas categorias de base, nas construções de centro de treinamento e profissionalizar os clubes. Algumas pessoas me chamaram de louco por querer três clubes do Estado na Série A, mas agora vamos lutar para ter cinco. A Federação vai ajudar a achar recursos, mostrar para as empresas que é importante investir nos clubes", completou o cartola.
Para o gerente de futebol da Chapecoense, Cadu Gaúcho, o segredo está em se adequar à realidade financeira do clube. "O primeiro passo é a organização. O clube não pode gastar mais do que vai receber. É trabalhar com os pés no chão. Nós não atrasamos nenhum dia o pagamento dos atletas, e isso é fundamental para o jogador ficar tranquilo e focar apenas no futebol. Temos de trabalhar como uma empresa", declarou.
Gaúcho também valoriza a região, que hoje possui o 12º IDH de Santa Catarina e é considerada a capital da agroindústria. "Os moradores de Chapecó são muito trabalhadores, eles vestem a camisa. Mesmo sem ganhar nenhuma remuneração, estão dispostos a ajudar e a crescer junto. Os nossos torcedores fizeram a diferença", destacou.





Fernando Ribeiro/Futura Press
Lucca, do Criciúma: time foi exceção, com ano conturbado e rebaixamento para a Série B

Apesar do fortalecimento do futebol na região, ainda existem problemas. O Avaí, por exemplo, garantiu o acesso na última rodada da Série B e passou por uma temporada bastante turbulenta. "Nós tivemos problemas de ordem econômica, começando o ano com salários atrasados. Conseguimos equilibrar tudo somente em setembro. Sabíamos que a possibilidade de sair dessa crise era o acesso. A Série A traz uma diferença no orçamento, e nós trabalhamos por isso mesmo sabendo que seria difícil", admitiu Chico Lins, coordenador de futebol do clube.
A dívida foi quitada graças a penhora do terreno do estádio da Ressaca. Somente à Justiça do Trabalho de Santa Catarina o clube devia cerca de R$ 6 milhões. "Nós tínhamos a questão da desapropriação do terreno, que demorou um pouco. Conseguimos equilibrar as contas e pagar as dívidas mais urgentes. Agora, agimos como qualquer empresa e trabalhamos de acordo com o orçamento. O futebol aqui está forte porque o nível é bom, um clube puxa o outro para cima e eleva o nível de exigência", acrescentou.
Quem também se complicou em 2014 foi o Criciúma, com sete treinadores em um ano e a dispensa de diversos atletas antes mesmo de o Brasileirão terminar. O planejamento inconstante refletiu diretamente no desempenho do time e resultou no rebaixamento para a segunda divisão.
FONTE : jornalista Gabriela Chabatura 
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