terça-feira, 29 de outubro de 2013
Rubens Lemos Filho e o seu TEXTO em HOMENAGEM ao GOLEIRO LULINHA .
FOTO (acima ) : Lulinha e a Sra. NAZARÉ ( madrinha do ABC FC ).
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Texto em homenagem a Lulinha, goleiro do timaço do ABC de 1983, campeão com 114 gols marcados. Lulinha morreu no último dia 28/10 em Fortaleza: Lulinha e fantasmas
Por Rubens Lemos Filho.
Faltava um goleiro para o time ficar pronto. Ele veio em meados do segundo turno e o ABC formou sua última máquina de jogar futebol. Chegou Lulinha, famoso no Ceará, baixinho e ágil, voador e seguro, fechando o campeonato de 1983, de um time capaz de fazer 114 gols. Sensualidade obcecada por gols.
Pequenino Lulinha a desmentir a regra dos teóricos de teclados de computador: goleiro pequeno não serve. A trave é do mesmo tamanho desde a invenção oficial do futebol e o ABC de 1983, foi esquadrão montado a dedo pelo técnico Erandy Montenegro.
Erandy Montenegro, um artilheiro que gostava do jogo por música e só conseguiu tranquilizar a torcida quando achou Lulinha. Ele tomou o lugar de frangueiros gigantes que angustiavam a Frasqueira. A orquestra tocava em harmonia até o delírio da massa.
Lulinha morreu na noite de domingo em Fortaleza. Aos 64 anos de idade, esperava um transplante de pulmão e não resistiu a uma infecção generalizada. Um amigo de infância e pesquisador alvinegro, Leonardo Guerra, me passava informações regulares sobre a saúde(ou a falta de ) de Lulinha, seu amigo e ídolo também.
Me pus a recitar a escalação daquele time perfeito para mim e milhares: Lulinha; Alexandre Cearense, Joel, Alexandre Mineiro(o maior zagueiro) e Dudé; Nicácio, Dedé de Dora e Marinho Apolônio; Curió, Silva e Djalma(ou Reinaldo).
Conversei com Erandy Montenegro, abalado. Erandy é um homem elegante. Um gentleman de roteiro inglês. "Lulinha foi um homem acima do boleiro comum." Sei(eu) o que aqueles homens representaram para mim, há 30 anos.
Foram heróis e heróis não nasceram para morrer. Estão todos lá, Lulinha e os que vivem onde estiverem, pairando no cemitério imposto às margens da BR-101 e da Avenida Prudente de Morais em Natal. Estão lá os meus heróis, no sitio arqueológico do Castelão. Depois rebatizado de Jornalista João Machado, a alegria no lugar da bajulação a um ditador.
Corto caminhos para não rever o abismo e as imagens que guardo, mantenho fechadas nos sorrisos abertos de cada ídolo para as lentes do fotógrafo Deodato Dantas, o pimpão do esporte. Machuca passar por Lagoa Nova e não ter mais as marquises sendo erguidas pelos meus olhos e mexendo com lembranças vivas de cada vitória, drible, gol e derrota.
Menino, tive medo de fantasmas. De almas penadas. De mortos que vinham do outro mundo me buscar. Hoje, a cada nova notícia como a de domingo à noite, me torno amigo deles, revejo as tardes de olhar tímido e maravilhado nas cabine de rádio.
Com o narrador Marco Antônio Antunes, o Garotinho da Copa, gritando em afinação aguda a cada defesa, o meu pai descrevendo em versos o salto passarinho e o repórter Souza Silva a berrar sempre que havia uma falta perigosa na entrada da área do ABC: "Eu confio em você, Lulinha". Lulinha agora está com eles no cemitério de minha geração apaixonada.
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