sábado, 29 de novembro de 2014

MALA BRANCA NO FUTEBOL ... é mais comum do que se pensa no futebol

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Fernando Prass admitiu já ter recebido incentivos financeiros de adversários quando atuava pelo Vasco e agora está na mira do STJD, que pode suspendê-lo por até 720 dias.


Presente em toda reta final de Campeonato Brasileiro desde que o sistema de pontos corridos foi adotado, o assunto “mala branca” voltou à tona depois que o goleiro Fernando Prass, do Palmeiras, admitiu já ter recebido incentivos financeiros de adversários quando atuava pelo Vasco. O atleta está agora na mira do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que pode suspendê-lo por até 720 dias. Mas a prática é mais comum do que se pensa no futebol.


Prass foi denunciado no artigo 238 do CBJD(Código Brasileiro de Justiça Desportiva): “receber ou solicitar vantagem indevida em razão de cargo ou função, remunerados ou não, em qualquer entidade desportiva ou órgão da Justiça Desportiva, para praticar, omitir ou retardar ato de ofício, ou, ainda, para fazê-lo contra disposição expressa de norma desportiva”. A pena varia de R$ 100,00 a R$ 100.000,00, além de suspensão de 360 a 720 dias.
“Ele, atleta, atua em uma entidade desportiva e está recebendo uma quantia para praticar um ato que ele deveria fazer de ofício, que é competir de modo a ganhar a partida. Tem, sim, uma previsão legal. A Procuradoria do STJD pode, de fato, denunciar e vai caber ao Tribunal avaliar”, explicou o advogado Marcelo Jucá, vice-presidente do TJD-RJ.
“O que ocorre é que, como a gente pode observar, [a mala branca] já é uma prática difundida há muitos anos no esporte. Só que de um tempo para cá ela passou a ser tipificada como uma conduta que deve ser reprovada. E no desconhecimento da lei, porque uma pessoa que fala isso na imprensa obviamente não sabe que existe esse dispositivo, ele admitiu”, prosseguiu o jurista.

FOTO: REPRODUÇÂO FACEBOOK

II - Mala branca desde 2003
Se condenado, o goleiro palmeirense abrirá um precedente, já que nunca houve qualquer tipo de punição para isso. O Náutico foi rebaixado para a Série B com seis rodadas de antecedência no ano passado. Com isso, se tornou o alvo ideal para ofertas de malas brancas, como admitiu o então gerente de futebol do clube pernambucano, Lúcio Surubim, à Rádio Bradesco Esportes.
“Sempre aconteceu. Tínhamos incentivo financeiro de algumas equipes nos jogos contra Fluminense, Criciúma e Bahia. Contra o Vasco, vamos ter também. É mais um motivo para eles jogarem, conseguirem o resultado e receberem alguma coisa. Contra o Flu, tinha R$ 450 mil de incentivo”, revelou Surubim.
“Não vejo nada de errado nisso. Errado é pagar para perder. Recebi várias vezes”, completou o dirigente.
O argumento de Surubim é repetido por diversos dirigentes e jogadores. O que não pode é receber dinheiro para entregar resultados, a chamada “mala preta”.

Thiago Carleto  América-MG (Foto: Tarcísio Badaró/Globoesporte.com)Thiago Carleto 
(Foto: Tarcísio Badaró/Globoesporte.com)
Em 2011, quando estava no América-MG, o lateral-esquerdo Thiago Carleto falou ter recebido uma ajudinha extra do Cruzeiro. Na época, o time celeste estava ameaçado de queda e disputou ponto a ponto com o Atlético-PR, equipe que acabou degolada.
"Acho que quando é favorável, quando é pra você ganhar é válido. Que nem hoje, se nós ganhássemos, nós teríamos uma ajuda do Cruzeiro. O Cruzeiro procurou alguns jogadores e a diretoria também deu um respaldo, falou que era coisa dos jogadores”, revelou Carleto à TV Globo depois que o já rebaixado América-MG derrotou e complicou a vida dos paranaenses.
Os casos relatados acima não são exceção. Somados a outros, constituem a regra. Em 2004, o meia Petkovic, então no Vasco, afirmou ter recebido oferta de mala branca do Atlético-PR, que disputava o título brasileiro com o Santos. No ano anterior, o meia Hugo, que estava no Juventude, foi alvo e aprovou: “Já fizeram este tipo de oferta para a gente. É valido, pois é uma grana extra que entra no fim do ano. Para o atleta é bom”, explicou.
Em 2010, dinheiro dado por um diretor do Corinthians seria usado pelo Guarani para pagar salários atrasados. O clube da capital disputava a taça. O do interior, já rebaixado, enfrentaria o Fluminense na última rodada. Os cariocas venceram e foram campeões. O pagamento do incentivo não aconteceu.





AP
Rivaldo admitiu que ele mesmo ligou para jogadores do La Coruña oferecendo mala branca em 2005

III- Na Europa tem também
No entanto, a mala branca não é privilégio do futebol brasileiro. Campeões do mundo com a seleção em 1994 e 2002, respectivamente, Mauro Silva e Rivaldo já relataram suas experiências com a prática na Europa.
"Houve uma partida, quando eu atuava pelo La Coruña, que nós recebemos dinheiro de outros três clubes para ganhar o nosso jogo”, disse Mauro Silva à Rádio Globo em 2010.
“Como já havia jogado no La Coruña, liguei para um jogador de lá e disse que meu time ofereceria um dinheiro se eles ganhassem do Monaco. Não deu certo e ainda acabamos desclassificados”, falou Rivaldo, sobre a Liga dos Campeões de 2005, temporada em que jogou no grego Olympiakos.
IVE o Prass?
Sobre Prass, é improvável que a pena de 720 dias seja aplicada, segundo Jucá.
“Ele vai ser instruído por um advogado, obviamente, e pode tentar dizer que não foi bem isso, que não teve um caso concreto onde isso aconteceu. E aí, por faltas de provas, ele pode ser absolvido. Ou então pode ser desclassificado para o artigo 258, assumir qualquer conduta contrária à disciplina, mora ou ética desportiva, que tem uma pena de uma a seis partidas. Pode ser usado em situações graves e leves, sem ficar um ano suspenso”, explicou o advogado.

FONTE: jornalista Pedro Taveira.

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