sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Colocando luto sobre a Liga do Nordeste
O TEXTO é de AUTORIA de PAULO CARNEIRO ( EX-PRESIDENTE do VITÓRIA ). Veja que o futebol do Nordeste está sendo afundado pelos próprios nordestinos. O artigo foi para a imprensa no dia 10/11/2010. A foto acima é de autoria do amigo Alexandre Costa.
1) No dia 09 (novembro/2010) se viveu mais uma página vergonhosa no futebol brasileiro. Dessa vez, o palco foi o auditório do tradicional clube pernambucano, o Santa Cruz. O encontro serviria para, de uma vez por todas, se tentar viabilizar o Campeonato do Nordeste, competição que foi criada no inicio da década e reconhecida como o maior “case” de sucesso de uma competição de futebol jáorganizada no Brasil. Naquela época, já pressionados pelas poucas possibilidades de desenvolvimento nos seus estados e inspirados pela recém criada Lei Pelé, os clubes liderados por Vitória, Sport e Bahia buscaram adesões entre os principais clubes dos 7 estados do Nordeste e criaram a primeira Liga de Futebol do futebol brasileiro.
2) O ENTUSIASMO foi total e mesmo com a resistência da Federação de Pernambuco, o campeonato foi organizado e durante três anos iniciou um processo de revitalização do futebol na região, com distribuição de receitas nunca vistas no mercado e organização exemplar. Naquela época, a Globo, que transmitia o campeonato pela TV aberta, fez constar em contrato que os clubes não podiam disputar as duas competições concomitantemente. Apenas em Pernambuco não se conseguiu êxito. Em 2003, interesses políticos envolvendo inclusive a sucessão da CBF, fizeram com que os contratos fossem rompidos e os regionais, que aquela altura já proliferavam em outras regiões, foram retirados do calendário. No último ano, a Liga arrecadou cerca de 16 milhões de reais. E o mercado não era nem sombra do que é hoje, com a chegada de novas mídias e o crescimento constante a taxas de 20% ao ano da base de assinantes de TV fechada.
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3) ANTES de suspender suas atividades, a Liga, autorizada pelos clubes, instruiu uma Ação de Lucros Cessantes contra a Globo e a CBF. Essa ação foi julgada e a Liga conseguiu uma vitória contra a entidade. Anos depois, após muita conversa entre o jurídico da CBF e a Liga, quando os valores da indenização já passavam dos R$ 40 milhões, mais precisamente no ano passado, se buscou um acordo e a competição renasceu para ser realizada, inicialmente em três anos. No acordo, a Liga cometeu um erro de não impor cláusula obrigatória de jogar a competição no período dos estaduais. Imaginaram os dirigentes, que aquela altura tinham o “apoio” das Federações, e que no segundo ano, ou seja, em 2011, isto aconteceria. Ledo engano. Na hora da verdade, as Federações de Pernambuco, Ceará e Bahia deram para trás e não abriram mão das datas dos estaduais.
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4) A BAIANA foi pior, pois fez um discurso de parceiro, foi a público declarar apoio, marcou reunião no RJ (e não foi), se reuniu em Salvador com Bahia e Vitória e garantiu apoio, mas nos bastidores trabalhou alinhado com a Pernambucana, que pelo menos sempre teve um discurso mais verdadeiro de prestigiar seu estadual. As Federações menores, sempre lideradas pela do Rio Grande do Norte, ao contrário da época áurea da competição, em que eram contra, apoiaram integralmente a competição nos moldes em que foi apresentada com 11 datas, semifinal e uma final. Chegaram a mudar seu calendário, fazendo com que os clubes da Liga só disputassem as finais dos seus estaduais. A realidade é que os estaduais nesses estados estão agonizando e clubes grandes como Sergipe, CSA e outros vivem momentos muito difíceis. Sabem que só estão na Série C por causa do formato ainda regionalizado e na mudança que se anuncia, sabem que vão ser engolidos pelos clubes do sul e sudeste.
5) A REUNIÃO marcada para ontem ( dia 09/nov/2010 ) na sede do Santa Cruz pode ter sido o epílogo de um projeto que só perde no Brasil para o Campeonato Brasileiro da Série A. O Vitória, com o entendimento da importância dessa competição para seu plano de desenvolvimento, ainda busca articulação para mudar o curso dos acontecimentos. Seu presidente foi à reunião e se colocou para liderar esse processo, até assumindo a presidência, o que não se opõe Eduardo Rocha, um abnegado que há meses vem conversando e viajando, buscando saídas para o impasse, criado principalmente pela Federações de Pernambuco e da Bahia.
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6) QUANTO À REUNIÃO, foi o que os mais pessimistas esperavam. O presidente do Santa Cruz, mesmo cedendo suas instalações e estando na sede, não compareceu. Logo, o Santa, que precisa de calendário, pois nem na D de 2011 está garantido. Dizem que recebeu ordens expressas da Pernambucana. Pela ausência do Náutico, que mandou um representante apenas para marcar presença, se deduziu que a Pernambucana, que antecipou seu Arbitral para o mesmo dia e horário, trabalhou para esvaziar a reunião. O Sport, diferente do que se imaginava, mandou um dos seus homens fortes, o ex-presidente Vanderson Lacerda. Mas sua participação foi extremamente negativa. E me lembrava da atuação de Luciano Bivar no comando da Liga do Nordeste no seu nascimento, e de seu entusiasmo pela competição. Vanderson, que é nosso amigo de muitos anos e grande baluarte, defendeu o estadual e disse sem fazer segredos que preferia disputar o estadual a subir pra Série A. Só pensam no Hexa, pois querem acabar com o discurso do Náutico, único a ter esse título no estado. O recado estava dado. Os clubes de Pernambuco, vivendo momentos de incerteza, sem ninguém na Série A do Brasileiro, atendia a sua Federação e esvaziava o Campeonato do Nordeste. O Ceará também não se fez presente, acompanhando seu Presidente de Federação. Dizem que querem ser campeões do estado e não querem fortalecer seu rival o Fortaleza. Um absurdo. O Bahia também faltou. Em 2011, se esperava arrecadar até R$ 15 milhões.
7) NÃO PRECISA COMPARAR com os estaduais, que distribuem em Pernambuco e na Bahia essa mesma quantia por 5 anos de contrato. Para o leitor, fica a questão: porque os clubes, depois de todos esses fatos incontestáveis, que diferenciam o Nordeste para melhor, não são firmes e se impõem as suas Federações? Bom, pela minha experiência na condução da competição na sua origem, posso dizer que:
• A maioria dos dirigentes da época foi substituída por outros que chegam com a prioridade da rivalidade regional, mesmo que isso custe um grande déficit de caixa;
• A exceção da Bahia, os torcedores aceitam melhor o rebaixamento, pressionando menos os dirigentes;
• A falta de uma liderança com expertise para articular com as Federações, e até se impor a elas, se for necessário. Qualquer ameaça dos clubes em disputar os estaduais com sua equipes de base desequilibra e inviabiliza a competição;
• As Federações usam de expedientes escusos, como ameaça de represália da CBF nas competições nacionais. Dizem que o da Baiana pressionou tanto Bahia como Vitória para não se fazerem presente a reunião;
• Não há visão estratégica de onde querem chegar esportivamente;
• Já aceitam passivamente o viver “com pires na mão”. Imaginem que o novo Presidente do Fortaleza, Paulo Mota, foi eleito numa festa chique, mas no final ninguém aparecia para pagar a conta. Nem o recém eleito;
• Não se aperceberam que aumentaram o período dos estaduais, representando um terço da temporada, quando o correto seria diminuir;
• Falta de união entre os clubes.
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Dia 01/12, Alexi deve ser eleito Presidente da Liga. Louvo sua iniciativa e torço para que suas incursões ainda salvem a competição em 2011. Com o apoio da Bahia e do Ceará, quem sabe, possa finalmente acordar os clubes de Pernambuco a entenderem que uma nova grande mudança está próxima no futebol brasileiro. E também os nossos queridos Presidentes, cujas Federações podem perfeitamente participar do processo, inclusive com receitas. O homem mais rico do Brasil acabou de se associar com uma das maiores empresas de marketing do mundo para explorar esse filão que se aproxima. Está criada a IMGX. Será que vamos continuar pensando pequeno até quando? Abrir mão de uma grande mercado de 7 estados com PIB maior que o Chile em detrimento de mini-mercados estaduais agindo isoladamente, é um crime contra o futebol e que está levando nossas principais forças às divisões secundárias do futebol brasileiro e Pernambuco é o grande exemplo do momento.
Escrito por Paulo Carneiro.
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