sábado, 8 de janeiro de 2011

Histórias do FUTEBOL. As peripécias do ex-jogador Flávio Minuano no ano de 1961 e o mestre ABÍLIO dos REIS, um dos maiores olheiros do Brasil.


O texto a seguir é de autoria de Lúcio Saretta. Além de editar seu blog pessoal, é colaborador do site Campeões do Futebol.


Peripécias de Flávio

1) Se não fosse pela astúcia de Abílio Dos Reis, talvez não existisse a lenda de Flávio Minuano. E se digo lenda, não é nenhum exagero. Esse garoto que vendia jornais nas ruas de Porto Alegre quase foi dispensado das categorias de base do Inter por algum treinador pouco esperto. Mestre Abílio, além de chancelar a permanência do guri, ainda passa Flávio para o ataque, já que o mesmo estava sendo desperdiçado na lateral esquerda.
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2) Muito cedo, com apenas 17 anos, ele herda o cetro de Larry como centroavante colorado. Minuano, aquele vento frio e cortante que aparece no nosso inverno. Muito cedo, Flávio quase uma criança, já sendo campeão gaúcho. O ano era 1961. Uma ilha vermelha num mar de títulos do Grêmio. Mas esse foi inesquecível. Osvaldo Rolla, que abandona o Tricolor na reta final do certame, teve a sua parcela de culpa. E Flávio, tão moço, também. Aqui vai o time que impediu o hexa mosqueteiro: Silveira; Zangão, Ari Hercílio, Kim e Ezequiel; Sérgio Lopes e Osvaldinho; Sapiranga, Flávio (Larry), Alfeu e Gilberto Andrade. Começavam as peripécias de Flávio. Ele agora não precisava mais vender jornais.
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3) O vento que mata. Assim era Flávio, centroavante dos bons, segundo alguns, mais de mil gols na carreira. Privilégio da torcida corintiana, que passa a contar com o craque a partir de 64. Foi um casamento feliz enquanto durou. A fase do Timão era aquela do jejum e Flávio não coloca faixa em São Paulo. Porém, participa de um momento sublime do clube: o fim do tabu contra o Santos.
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4) Eram 11 anos sem vencer a esquadra peixeira dentro de Campeonatos Paulistas. Flávio não permitiria que isso continuasse. 6 de Março de 68. Uma noite que reservaria alegrias homéricas à torcida alvinegra paulistana. O placar do Pacaembu já assinalava 1 x 0 para o Corinthians contra o Santos quando, de fora da área, Flávio acerta uma chute seco, gelando a espinha do goleiro Cláudio. Minuano, aquele vento frio que aparece no nosso inverno. Fim do tabu. No ano seguinte, Flávio iria para o Fluminense. E nunca mais faria parte daquele ataque: Buião, Paulo Borges, Flávio, Rivelino e Eduardo.
Até hoje ele é o nono maior artilheiro da história corintiana, com 167 bolas na rede.
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5) O Beira-Rio era inaugurado e a torcida colorada tinha um novo xodó: Claudiomiro. Era 1969 e o vento minuano iria soprar em praias cariocas. No Fluminense, Flávio seria outra vez personagem de destaque, especialmente após marcar o gol da vitória no Fla-Flu que decidiu o Campeonato Carioca daquele ano. No dia seguinte ao jogo, Nelson Rodrigues tece o seguinte comentário sobre nosso ex-entregador de jornais: “O Fluminense começou a ser campeão a partir do momento em que Flávio vestiu a nossa camisa (...) é um guerreiro indomável. Muitas vezes, sozinho, varava uma selva de botinadas”. Mais um romance feliz, dessa vez com a torcida pó de arroz. E por falar em romance, dizem até que um dos fatores que apressou a saída de Flávio do Flu foi um relacionamento seu com a filha de um cartola do clube. O Minuano vai embora, não sem antes ser de novo campeão em 71.
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6) Após um período em Portugal, Flávio é repatriado pelo presidente colorado Ballvé, que vai logo anunciando a novidade ao técnico Minelli. Este, incrédulo, apenas pergunta: “Mas que Flávio?”. É que o jogador estava um pouco esquecido por aqui. Não por muito tempo, pois naquele ano de 75 ele seria campeão brasileiro e artilheiro do certame, provando que a idade tinha lhe feito muito bem.
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7) Mas o momento de parar estava próximo. Após passar por Pelotas e Santos, entre outros clubes, Flávio vira técnico. Trabalha então em 14 de Julho, Pelotas, Paysandu e Caxias, onde tem uma rápida passagem em 1983.
Hoje vive em São Paulo, ensinando futebol nas escolinhas do Monte Líbano.
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8) Uma das fotos mais clássicas do futebol brasileiro é aquela da bicicleta de Pelé no Maracanã, contra a Bélgica, em 1965. Ao seu lado está Flávio, peito estufado, participando ativamente do lance. Naquele dia, sob os olhares de mais de cem mil pessoas, o nosso craque também deixou a sua marca. Vivendo o esplendor da sua mocidade, vestindo a camisa da Seleção, o vento soprava mais forte do que nunca. E continuará soprando nas nossas lembranças enquanto existir o fascínio do homem pelo mundo misterioso do esporte.



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