quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

LEIA UM BELO TEXTO do grande TOSTÃO em homenagem ao seu amigo GÉRSON, mais conhecido pelo apelido de "CANHOTA de OURO".


Da “FOLHA”

Por TOSTÃO

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Gerson, hoje com 70 anos, não andava em campo nem foi craque só pelos passes longos

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A HISTÓRIA, do futebol e da vida, nunca conta toda a verdade. Nem os protagonistas falam tudo. Por isso, não acredito em biografias ou autobiografias.

Gerson fez ontem 70 anos. Uma imagem presente na memória de quem acompanha futebol é a de Gerson, na Copa de 1970, andando com a bola para, em seguida, dar um passe espetacular, preciso, de uns 40 metros.

O futebol não era tão lento -obviamente, corria- -se muito menos que hoje-, e Gerson não andava em campo nem foi craque somente pelos lançamentos longos.

Com frequência, Gerson recebia a bola do goleiro, tocava, avançava, tocava, tabelava com os atacantes perto da área rival, além de fazer gols.

Gerson orientava os zagueiros e se posicionava muito bem defensivamente, diminuindo os espaços para os meias e os atacantes do outro time receberem a bola.

Gerson falava muito em campo e adorava conversar sobre futebol, de detalhes do treino e do jogo. Como dormia pouco e tarde, fazíamos um rodízio para que ele tivesse sempre alguém para lhe fazer companhia.

A maioria dos jogadores conversa pouco sobre futebol, dentro e fora de campo. Alguns falam que não gostam. O técnico manda, e eles obedecem.

Em 1968, numa excursão da seleção, Gerson, eu e Rivellino, sem a presença do técnico Aymoré Moreira, decidimos mudar a maneira de jogar da equipe. O time melhorou, e o técnico aprovou.

Apesar de haver milhares de programas esportivos na TV, há também pouquíssimas discussões detalhadas sobre o futebol -a técnica, a tática, a ciência do esporte- e sobre o comportamento humano dos jogadores durante as partidas.

Quase todo o tempo é consumido com trocas de e-mails e agrados aos internautas, em pesquisas sobre quem vai ganhar o clássico (como se fosse possível saber) e em repetir informações, opiniões e imagens, que já foram mostradas mil vezes em outros programas, da mesma ou de outras emissoras. Com alguns chavões, tentam explicar tudo que acontece em um jogo.

Mesmo quando um internauta levanta questões importantes ou um brilhante comentarista faz ótimas análises e dá preciosas informações, o assunto para por aí, por falta de tempo -foi gasto em coisas inúteis- ou porque todos concordam. O futebol não é só emoção, negócio e entretenimento.

É também ciência.

Sem bons debates, criam-se mentiras, como as de que Gerson andava em campo e que era um craque somente pelos lançamentos longos.


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*O TEXTO ACIMA, de autoria de TOSTÃO ( craque da COPA de 1970 ), foi publicado no dia 11 de janeiro de 2011.

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