terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Mourinho já foi à Rua Javari,viu treino do Ceará e clássico Ca-Ju.Conheça as histórias do melhor técnico do mundo contadas por amigos brasileiros.
Por Marcel Rizzo e Paulo Passos
Ir a um jogo da segunda divisão do Campeonato Paulista na Rua Javari, ver um treino do Ceará, em Fortaleza, e um clássico Ca-Ju, em Caxias do Sul, não são programas incluídos nos pacotes turísticos dos europeus que vem ao Brasil. Foi esse, entretanto, o roteiro de uma das vindas de José Mourinho ao país.
Eleito melhor técnico do mundo em 2010, o português tem muito mais relações com o Brasil do que ser chefe de Kaká e do lateral Marcelo. Do agente que fez às vezes de cicerone em duas vindas ao país, ao ex-zagueiro que virou seu auxiliar e ainda o chama de Zé, passando pelo craque de uma temporada e a advogada número 1 dos boleiros, conheças as histórias do treinador do Real Madrid contadas por brasileiros que conviveram com ele:
I) O primeiro agente
Quando o ex-zagueiro e agente Jorge Baidek conheceu José Mourinho, o português ainda não havia se auto-definido com o “special one”, nem vencido duas Ligas dos Campeões e o prêmio de melhor técnico do mundo da Fifa. “Ele estava desempregado. Tinha sido demitido do Benfica e, por indicação de um amigo em comum, foi no meu escritório em Lisboa. Disse para ele: “em cinco minutos te arranjo um clube”. Fiz alguns contatos e arranjei o União de Leiria, que foi o que deu para conseguir”, revela o ex-jogador do Grêmio.
Por incrível que parece, o presidente do clube não considerou a contratação um bom negócio. Ao menos nos primeiros jogos. “Ele ficou louco, achava que o time atuava de forma muita arriscada. Um dia, me ligou pedindo para eu ir a uma reunião com ele e o Mourinho. Disse no telefone assim mesmo: este técnico que você arranjou é louco. Ele acha que está no Benfica”, conta. Segundo Baidek, no encontro, Mourinho peitou o cartola e disse que não mudaria o estilo de jogo do time. Ele seguiu e fez a melhor campanha da história do clube.
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Baidek ( foto acima ) trabalhou com Mourinho durante cinco anos. Negociou a ida do técnico para o Porto, em 2001, mas acabou ficando fora da transferência para o Chelsea, feita pelo agente português Jorge Mendes, que passou a administrar a carreira do técnico. “É uma história muito comprida. Não trabalhamos mais juntos, mas ainda somos amigos”, diz.
II) Mourinho na Rua Javari
Antes da fama e de trabalhar com jogadores brasileiros como Kaká, Marcelo, Julio Cesar, Lúcio e Maicon, Mourinho penava para achar reforços para suas equipes. Em 2001, ele veio ao Brasil atrás de jogadores para o União de Leiria, seu clube na época.
“Lembro que ele foi no sul, vimos um clássico Gre-Nal, no Beira-Rio, e um Ca-ju (disputado entre Caxias e Juventude), no Alfredo Jaconi, em Caxias de Sul. Em São Paulo, ele foi até na Rua Javari ver um jogo do Juventus. Na época, ele não podia ter um Kaká, então buscávamos jogadores menos conhecidos”, revela Baidek, que fez as vezes de cicerone para o português.
Na mesma viagem, Mourinho foi à Fortaleza, onde viu um treino do Ceará, e ao Rio de Janeiro. Na capital fluminense, o português achou o que queria: dois atacantes. Derlei, que estava no Madueira, e Moacir, do Volta Redonda, foram os escolhidos. “Eu comemorei quando ele definiu. Enquanto ele não achava um jogador, eu não tinha sossego”, diz o agente.
III) De gorro no Morumbi
Já no comando do Porto, um dos times mais ricos de Portugal, Mourinho visitou o Brasil outra vez em 2003. A missão do técnico era observar ao vivo o lateral-esquerdo Gustavo Nery, na época no São Paulo. Além de Baidek, o português teve como “guia” a advogada Gislaine Nunes, especializada em defender jogadores em causas trabalhistas.
“Ele foi no meu escritório e depois ao Morumbi. Me lembro que estava frio e ele não quis ficar no camarote, preferiu ir para a arquibancada. Colocou um gorro e viu o jogo no meio da torcida”, contou a advogada.
Gustavo Nery até jogou, mas não agradou o português, que ficou encantado por um jovem atacante do Fluminense. Dois meses depois, Carlos Alberto foi contratado pelo Porto.
Gislaine ( foto acima ) lembra que não eram só os jogos que agradavam o português. “O Mourinho tem essa cara de bravo, mas adora o Brasil. Quando esteve aqui em 2003 ele foi várias vezes ao shopping. Ele dizia que tudo era muito barato e voltou para Portugal com diversas compras”.
IV) O craque de uma temporada
Logo que Carlos Alberto chegou ao Porto em 2004, José Mourinho disse que queria usá-lo atacante. Durante os primeiros treinamentos do jogador, entretanto, ele foi escalado na função de volante.
O brasileiro estranhou, mas diz não ter comentado nada. Nos dias seguintes, a mesma coisa. Com a proximidade da estreia, Carlos Alberto ficou preocupado e perguntou a Mourinho porque ele estava sendo colocado para marcar, já que nunca tinha feito a função defensiva. "Confia em mim e faz o que estou falando. Já, já você vai entender e me dar razão", respondeu o português.
No dia do primeiro jogo, o brasileiro estava no time titular, como atacante. Foi então que Mourinho o chamou e falou: "Estava fazendo isso para te ensinar a marcar. Agora, mesmo jogando na frente, você poderá ajudar a equipe marcando desde lá da frente".
Com Mourinho no Porto, Carlos Alberto viveu a melhor fase da carreira. Aos 19 anos era titular do time e marcou o primeiro gol na final que deu o título da Liga dos Campeões ao clube português.
V) O auxiliar “Zé”
O ex-zagueiro Aloísio chama o técnico do Real Madrid de Zé. A intimidade vem da época em que conviveram em Portugal. O ex-jogador atuava no Porto, onde Mourinho era auxiliar do técnico Bobby Robson, em 1995.
“O Zé era mais que um auxiliar. Comandava treinos, dava orientações e ajudava na conversa com os jogadores, até porque o treinador não falava português. Era um faz tudo, até mesmo tradutor”, conta Aloísio.
O ex-zagueiro revela que o Mourinho consagrado é bem mais calmo que o “Zé”. “Uma vez que ele invadiu o gramado num clássico contra o Benfica. O Zé estava atrás do gol, orientando o aquecimento dos reservas, quando o Porto marcou. Ele entrou enlouquecido no gramado para comemorar com os jogadores. Quem estava em campo, tomou um susto. Depois, saiu de fininho para não ser punido”, conta.
Em 2002, os dois voltaram a trabalhar junto. Já técnico, Mourinho chamou Aloísio para ser seu auxiliar no Porto. Ele ficou dois anos trabalhando com o português, até decidir virar dirigente. Hoje, o ex-zagueiro é diretor técnico do Porto Alegre, clube de Assis e Ronaldinho, que disputa a primeira divisão do Campeonato Gaúcho.
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